terça-feira, março 17, 2009




EM PERFEITO EQUILIBRIO DE MINHAS FACULDADES MENTAIS!


(O Alienista)




"Daí em diante foi uma coleta desenfreada.Um homem não podia dar nascença ou curso à, mais simples mentira do mundo, ainda daquelas que aproveitam ao inventor ou divulgador, que não fosse logo metido na Casa Verde. tudo era loucura. Os cultores de enigmas, os fabricantes de charadas, de anagramas, os maldizentes, os curiosos da vida alheia, os que põem todo o seu cuidado na tafularia, um outro almotacé enfunado, ninguém escapava aos emissários do alienista. Ele respeitava as namoradas e não poupava as namoradeiras, dizendo que as primeiras cediam a um impulso natural e as segundas a um vício. Se um homem era avaro ou pródigo, ia do mesmo modo a Casa verde; daí a alegação de que não havia regra para a completa danidade mental. Alguns cronistas crêem que Simão Bacamarte nem sempre procedia com lisura, e citam um abandono da afirmação (que não sei se pode ser aceita) o fato de ter alcançado da Câmara uma postura autorizando o uso de um anel de prata no dedo polegar da mão esquerda, a toda pessoa que, sem outra prova documental ou tradicional, declarasse ter nas veias duas ou três onças de sangue godo. Dizem esses cronistas que o fim secreto da insinuação à Câmara foi enriquecer um ourives amigo e compadre dele; mas, conquanto seja certo que o ourives viu prosperar o negócio depois da nova ordenação municipal, não o é menos que essa postura deu à Casa Verde uma multidão de inquilinos; pelo que, não se pode definir, sem temeridade, o verdadeiro fim do ilustre médico. Quanto à razão determinava da captura e aposentação na Casa Verde de todos quantos usaram o anel, é um dos pontos mais obscuros da história de Itaguaí a opnião mais verossímel é que eles foram recolhidos por andarem a gesticular, à toa, nas ruas, em casa, na igreja. Ninguém ignora que os doidos gesticulam muito. Em todo caso, é uma simples conjetura; de positivo, nada há."


(O Alienista)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quem sou eu

Minha foto
Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? Blá... Blá... Blá...