sábado, março 28, 2009
"Quando chegaste, os violoncelos
Que andam no ar cantaram hinos.
Estrelaram-se todos os castelos,
E até nas nuvens repicaram sinos.
Foram-se as brancas horas sem rumo.
Tanto sonhadas! Ainda, ainda
Hoje os meus pobres versos perfumo
Com os beijos santos da tua vinda.
Quando te foste, estalaram cordas
Nos violoncelos e nas harpas...
E anjos disseram : – Não mais acordas,
Lírio nascido nas escarpas!
Sinos dobraram no céu e escuto
Dobres eternos na minha ermida.
E os pobres versos ainda hoje enluto
Com os beijos santos da despedida."
Que andam no ar cantaram hinos.
Estrelaram-se todos os castelos,
E até nas nuvens repicaram sinos.
Foram-se as brancas horas sem rumo.
Tanto sonhadas! Ainda, ainda
Hoje os meus pobres versos perfumo
Com os beijos santos da tua vinda.
Quando te foste, estalaram cordas
Nos violoncelos e nas harpas...
E anjos disseram : – Não mais acordas,
Lírio nascido nas escarpas!
Sinos dobraram no céu e escuto
Dobres eternos na minha ermida.
E os pobres versos ainda hoje enluto
Com os beijos santos da despedida."
ISMÁLIA
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...
quarta-feira, março 18, 2009
A Gramática!
"grammatici sermonis Latini custodes sunt, non auctores" (Sêneca)
("Os gramáticos são guardiães da língua, mas não seus autores")
("Os gramáticos são guardiães da língua, mas não seus autores")
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"A gramática, a mesma árida gramática, transforma-se em algo parecido a uma feitiçaria evocatória; as palavras ressuscitam revestidas de carne e osso, o substantivo, em sua majestade substancial, o adjectivo, roupa transparente que o veste e dá cor como um verniz, e o verbo, anjo do movimento que dá impulso á frase." (Baudelaire)
terça-feira, março 17, 2009
Um lindo trabalho. Assim pode ser definido O Alienista (formato 21 x 28 cm, 72 páginas coloridas, R$ 39,90), que chegou às livrarias em 2007 inaugurando a coleção Grandes Clássicos em Graphic Novel, da Agir, tradicional editora do Rio de Janeiro que foi adquirida pela Ediouro em 2002 e estreou - com estilo - no mercado de quadrinhos. A missão de transformar em quadrinhos um dos contos mais famosos de Machado de Assis coube aos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá. E o resultado ficou excelente. "Nossa intenção era preservar ao máximo o texto original, o jeito que Machado de Assis escrevia. Mas, ao mesmo tempo, queríamos que fosse uma história em quadrinhos, não uma história ilustrada", declarou Moon ao Universo HQ. E os gêmeos alcançaram esse objetivo. Procurados pela Agir/Ediouro para inaugurar essa nova linha de quadrinhos, entre algumas opções de escritores, escolheram adaptar algo de Machado de Assis, apesar de, na época, ainda não terem lido O Alienista. Na história, publicada pela primeira vez em 1881, no periódico A Estação e, no ano seguinte, no livro Papéis Avulsos, Machado de Assis usa a loucura como forma de satirizar a sociedade, a política e os valores científicos do fim do século 19. O protagonista é o nobre Simão Bacamarte, o maior médico do Brasil, de Portugal e das Espanhas. Na Vila de Itaguaí, no Rio de Janeiro, Bacamarte se instala para aprofundar seus estudos sobre a mente humana e lá constrói um lugar para abrigar os loucos. O problema começa quando começa a internar pessoas aparentemente sãs. Frente à incredulidade dos moradores, o alienista encontra no barbeiro Porfírio seu principal antagonista.
"Foram quatro meses de trabalho. O primeiro dedicado apenas ao roteiro, definir o que entraria, o que sairia e o que deveria ser transformado na HQ - muita narração virou diálogo, pra dar mais ritmo à história e o Porfírio, por exemplo, ganhou mais força do que tinha no conto original. Depois dessa etapa, passei o restante do tempo só desenhando e colorindo", explica Fábio Moon. Nesta obra especificamente, Gabriel Bá ajudou apenas na adaptação do roteiro (por estar desenhando Casanova para o mercado norte-americano), enquanto o irmão, além de dividir essa mesma função, desenhou e coloriu as páginas. E na arte, em alguns momentos, é fácil notar a influência de Will Eisner no trabalho de Moon. Esta versão em quadrinhos de O Alienista tem tudo para ser adotada por escolas e bibliotecas do Brasil inteiro (algo que, certamente, a Agir/Ediouro tentará), pois mantém grande parte da obra original e, ao mesmo tempo, oferece aos novos leitores um estímulo visual maior, um jeito diferente de encarar os escritos de Machado de Assis."Acho que é uma oportunidade legal para alguns fãs de HQs conhecerem essa obra tão importante; e de leitores de Machado de Assis lerem uma história em quadrinhos", ressalta Moon. Essa tese, aliás, é endossada pelo escritor Flávio Moreira Costa, que assina o prefácio da edição.
Como no conto não há descrição física dos personagens (exceto de D. Evarista, esposa de Simão Bacamarte), Moon os concebeu da forma como os imaginava. Sua Itaguaí também tem um ar bem clássico e tradicionalista, que fica ressaltado nas cores, uma mescla de preto com marrom e amarelo, imitando o sépia. E a Agir/Ediouro dá mostras de acreditar bastante no sucesso dessa coleção. "Foi o meu trabalho de quadrinhos mais bem remunerado. Pela primeira vez, recebi um adiantamento dos royalties de uma obra inédita", contou Moon. Em contato com a editora, o UHQ apurou que outros autores terão obras adaptadas na coleção Grandes Clássicos em Graphic Novel são eles: Euclides da Cunha, Lima Barreto, João do Rio, entre outros.
"Foram quatro meses de trabalho. O primeiro dedicado apenas ao roteiro, definir o que entraria, o que sairia e o que deveria ser transformado na HQ - muita narração virou diálogo, pra dar mais ritmo à história e o Porfírio, por exemplo, ganhou mais força do que tinha no conto original. Depois dessa etapa, passei o restante do tempo só desenhando e colorindo", explica Fábio Moon. Nesta obra especificamente, Gabriel Bá ajudou apenas na adaptação do roteiro (por estar desenhando Casanova para o mercado norte-americano), enquanto o irmão, além de dividir essa mesma função, desenhou e coloriu as páginas. E na arte, em alguns momentos, é fácil notar a influência de Will Eisner no trabalho de Moon. Esta versão em quadrinhos de O Alienista tem tudo para ser adotada por escolas e bibliotecas do Brasil inteiro (algo que, certamente, a Agir/Ediouro tentará), pois mantém grande parte da obra original e, ao mesmo tempo, oferece aos novos leitores um estímulo visual maior, um jeito diferente de encarar os escritos de Machado de Assis."Acho que é uma oportunidade legal para alguns fãs de HQs conhecerem essa obra tão importante; e de leitores de Machado de Assis lerem uma história em quadrinhos", ressalta Moon. Essa tese, aliás, é endossada pelo escritor Flávio Moreira Costa, que assina o prefácio da edição.
Como no conto não há descrição física dos personagens (exceto de D. Evarista, esposa de Simão Bacamarte), Moon os concebeu da forma como os imaginava. Sua Itaguaí também tem um ar bem clássico e tradicionalista, que fica ressaltado nas cores, uma mescla de preto com marrom e amarelo, imitando o sépia. E a Agir/Ediouro dá mostras de acreditar bastante no sucesso dessa coleção. "Foi o meu trabalho de quadrinhos mais bem remunerado. Pela primeira vez, recebi um adiantamento dos royalties de uma obra inédita", contou Moon. Em contato com a editora, o UHQ apurou que outros autores terão obras adaptadas na coleção Grandes Clássicos em Graphic Novel são eles: Euclides da Cunha, Lima Barreto, João do Rio, entre outros.
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(GRAPHIC NOVEL - em português, romance gráfico; livro, normalmente contando uma longa história através de arte sequencial (banda desenhada ou quadrinhos), e é frequentemente usada para definir as distinções subjetivas entre um livro e outros tipos de histórias em quadrinhos.O termo é geralmente usado para referir-se ao quadrinho de longa duração, ou seja, é o análogo na arte sequencial a uma prosa ou romance. Pode ser aplicado a trabalhos que foram publicados anteriormente em quadrinhos periódicos, ou a trabalhos produzidos especificamente para publicação em formato livro.)
EM PERFEITO EQUILIBRIO DE MINHAS FACULDADES MENTAIS!
(O Alienista)
"Daí em diante foi uma coleta desenfreada.Um homem não podia dar nascença ou curso à, mais simples mentira do mundo, ainda daquelas que aproveitam ao inventor ou divulgador, que não fosse logo metido na Casa Verde. tudo era loucura. Os cultores de enigmas, os fabricantes de charadas, de anagramas, os maldizentes, os curiosos da vida alheia, os que põem todo o seu cuidado na tafularia, um outro almotacé enfunado, ninguém escapava aos emissários do alienista. Ele respeitava as namoradas e não poupava as namoradeiras, dizendo que as primeiras cediam a um impulso natural e as segundas a um vício. Se um homem era avaro ou pródigo, ia do mesmo modo a Casa verde; daí a alegação de que não havia regra para a completa danidade mental. Alguns cronistas crêem que Simão Bacamarte nem sempre procedia com lisura, e citam um abandono da afirmação (que não sei se pode ser aceita) o fato de ter alcançado da Câmara uma postura autorizando o uso de um anel de prata no dedo polegar da mão esquerda, a toda pessoa que, sem outra prova documental ou tradicional, declarasse ter nas veias duas ou três onças de sangue godo. Dizem esses cronistas que o fim secreto da insinuação à Câmara foi enriquecer um ourives amigo e compadre dele; mas, conquanto seja certo que o ourives viu prosperar o negócio depois da nova ordenação municipal, não o é menos que essa postura deu à Casa Verde uma multidão de inquilinos; pelo que, não se pode definir, sem temeridade, o verdadeiro fim do ilustre médico. Quanto à razão determinava da captura e aposentação na Casa Verde de todos quantos usaram o anel, é um dos pontos mais obscuros da história de Itaguaí a opnião mais verossímel é que eles foram recolhidos por andarem a gesticular, à toa, nas ruas, em casa, na igreja. Ninguém ignora que os doidos gesticulam muito. Em todo caso, é uma simples conjetura; de positivo, nada há."
(O Alienista)
segunda-feira, março 16, 2009
O Comercio - Baudelaire
Charles Pierre Baudelaire (9 de Abril de 1821 - 31 de Agosto de 1867) foi um poeta e teórico da arte francês. É considerado um dos precursores do Simbolismo, embora tenha se relacionado com diversas escolas artísticas. Sua obra teórica também influenciou profundamente as artes plásticas do século XIX.
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"O comercio é, por sua essencia, satânico. O comercio é a justa represalia, é o empréstimo com o subentendido: Devol-ve me mais do que eu te dou. O espírito de todo comerciante é inteiramente viciado. O comercio é natural, logo é infame.O menos infame de todos os comerciantes é auqele que diz: "Sejamos virtuosos, para ganhar muito mais dinheiro do que os tolos que são viciosos."Para o comerciante, a própria honestidade é uma especulação de lucro.O comercio é satânico, dado que é uma das formas do egoísmo, e a mais baixa, e a mais vil."
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... sugerir através das palavras sem nomear objetivamente os elementos da realidade;
ênfase no imaginário e na fantasia;
percepção intuitiva da realidade ...
SIMBOLISMO
"Ó flora, ó ninfa das rosas,
Ó frescura dos morangos,
Abre as pupilas radiosas,
Ó flora, ó ninfa das rosas,
Dá-me as estrelas formosas
Do olhar repleto de tangos,
Ó flora, ó ninfa das rosas,
Ó frescura dos morangos."
(Cruz e Souza)
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O termo símbolo, com origem no grego σύμβολον (sýmbolon), designa um elemento representativo que está (realidade visível) em lugar de algo (realidade invisível) que tanto pode ser um objecto como um conceito ou idéia, determinada quantidade ou qualidade.
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"Deixai que deste álbum na folha delicada
Eu velha difundir meus rudes pensamentos
Deixai que as pobres rimas, uns nadas poerentos
eu possa transudar da mente entrenublada!...
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Eu velha difundir meus rudes pensamentos
Deixai que as pobres rimas, uns nadas poerentos
eu possa transudar da mente entrenublada!...
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Deixai que de minh'alma na fibra espedaçada
Eu busque inda vibrar uns cantos tardos, lentos!...
Bem cedo os vendavais, aspérrimos, cruentos
Ai! Tudo arrojarão á campa amargurada!
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Eu busque inda vibrar uns cantos tardos, lentos!...
Bem cedo os vendavais, aspérrimos, cruentos
Ai! Tudo arrojarão á campa amargurada!
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Porem qu'importa isso! dos mares desta vida
Nos pávidos, estranhos, enormes escarcéus
Se alguma coisa val, és tu, ó luz querida!...
Nos pávidos, estranhos, enormes escarcéus
Se alguma coisa val, és tu, ó luz querida!...
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Raguemos do porvir os áditos, os véus!...
Riamos sem cessar, embora em dor sentida!...
Também as nuvens negras congloban-se nos céus!..."
Riamos sem cessar, embora em dor sentida!...
Também as nuvens negras congloban-se nos céus!..."
(5 dez 1882) (Cruz e Souza)
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