segunda-feira, novembro 23, 2009


"Bem considerando, a atualidade é a mesma em todas as datas. Feita a compensação doso desejos que variam, das aspirações que se trnasformam, alentadas perpetuamente do mesmo ardor, sobre a mesma fase fantástica de esperanças, a atualidade é uma. Sob a coloração cambiante das horas, um pouco de oyro mais pela manhã, um pouco mais de púrpura ao Crepúsculo - a paisagem é a mesma de cada lado beirando a estrada da vida."

(O Ateneu - Raul Pompéia)

sábado, novembro 21, 2009

A imagem é pensamento






A imagem é pensamento, o pensamento é imagem.
(Kátia Muricy)



A linguagem significa, em vez de copiar o pensamento, deixar-se por ele desfazer e refazer. Traz consigo seu sentido do mesmo modo que o vestígio de um passo significa o movimento e o esforço de um corpo [...] De fato o escritor, como o tecelão, trabalha às avessas: preocupa-se unicamente com a linguagem e em sua trilha vê-se de repente rodeado de sentido.

(Maurice Merlau-Ponty)



****


REPETIR
REPETIR
ATÉ FICAR DIFERENTE
(Manoel de Barros)
Um livro não é apenas um fragmento do mundo,
ele próprio é um pequeno mundo. O livro é uma miniaturização
do mundo, que o leitor habita. [...]Benjamim evoca o seu êxtase de
criança: "Não líamos apenas os livros; morávamos,
habitávamos entre suas linhas."

(Susan Sontag)









quarta-feira, setembro 23, 2009

Ah.....penso


Penso, logo existo
Penso, logo
Penso
Penso logo
Penso, logo desisto
Não penso

domingo, setembro 13, 2009

Euclides da Cunha

... este é o centenário de morte escritor, sociólogo, repórter jornalístico, historiador e engenheiro brasileiro Euclides da Cunha...

♦♦♦

Para conhecer mais: http://www.euclides.site.br.com/

♦♦♦

COMPARAÇÃO

"Eu sou fraca e pequena..."
Tu me disseste um dia.
E em teu lábio sorria
Uma dor tão serena,

Que em mim se refletia
Amargamente amena,
A encantadora pena
Quem em teus olhos fulgia.

Mas esta mágoa, o tê-la
É um engano profundo.
Faze por esquecê-la:
Dos céus azuis ao fundo
É bem pequena a estrela...
E no entretanto _ é um mundo!
[1884]

♦♦♦


A FLOR DO CÁRCERE [Publicado na "Revista da Família Acadêmica", número 1, Rio de Janeiro, novembro de
1887.]

Nascera ali _ no limo viridente
Dos muros da prisão _ como uma esmola
Da natureza a um coração que estiola _
Aquela flor imaculada e olente...

E 'ele' que fora um bruto, e vil descrente,
Quanta vez, numa prece, ungido, cola
O lábio seco, na úmida corola
Daquela flor alvíssima e silente!...

E _ ele _ que sofre e para a dor existe _
Quantas vezes no peito o pranto estanca!...
Quantas vezes na veia a febre acalma,

Fitando aquela flor tão pura e triste!...
_ Aquela estrela perfumada e branca,
Que cintila na noite de sua alma...
[1884?]

♦♦♦

RIMAS

Ontem _ quando, soberba, escarnecias
Dessa minha paixão _ louca _ suprema
E no teu lábio, essa rósea algema,
A minha vida _ gélida _ prendias...

Eu meditava em loucas utopias,
Tentava resolver grave problema...
_ Como engastar tua alma num poema?
E eu não chorava quanto tu te rias...

Hoje, que vivo desse amor ansioso
E és minha _ és minha, extraordinária sorte,
Hoje eu sou triste sendo tão ditoso!

E tremo e choro _ pressentindo _ forte _,
Vibrar, dentro em meu peito, fervoroso,
Esse excesso de vida _ que é a morte...
[1885]

♦♦♦

FRAGMENTOS DE POESIA [Publicado em "O Imparcial", Rio de Janeiro, 20 jan. 1929]
A Coelho Neto

De um lado o Atlântico e do outro lado as serras
Longas, indefinidas, perlongando-o;
E aquém das serras nos planaltos largos,
Um mundo ainda ignoto! Os rios longos
Recortam-na profusos, ora calmos,
Volvendo a correnteza imperceptível,
Ora cheios, rolando no...
O soberbo estridor das cachoeiras...
As grandes matas verde-negras vastas
... de frutos e de flores
Desafiam do azual as pompas todas.

Que terra encantadora... Mas enquanto
O meu olhar se desatava livre
No desafogo dos espaços amplos
O ridículo mortal tolhia o passo
E imóvel sobre o cerro em que jazíamos
Abarcava num gesto o espaço todo:
Conforme vês 'a terra é longa e grossa'
E atestam na pujança com que surgem
A riqueza de um solo incomparável
Em que o cultivador sem mais resguardos
Com algumas foiçadas e um bocejo
Garante o pão à prole e pode dar-se
Ao culto sacrossanto da Preguiça.
E nada o preocupa: a fauna é frágil,
Traiçoeira e cobarde; não há tigres,
Régios tigres listrados; nem leões,
Nada das formas colossais e rudes
Feitas para guardarem, consorciadas,
A feridade e a força... Tudo médio
Tudo uma redução do que há alhures
O elefante é tapir tardo e medroso
O tigre de Bengala é a suçuarana
Cobarde e fugitiva; o orango bruto
É o sagüi famíneo e pulha; e a capivara
O hipopótamo esquivo das lagoas...
E tudo é médio... a natureza toda
Numa mediania inalterável...
As mesmas forças naturais que além
Rompem em cataclismas formidáveis

Criando a Geologia traço estranho
De um drama esquiliano, aqui, é calma.
Não há vulcões e os mesmos terremotos
Que subvertem cidades noutras zonas
Amortecem-se inúteis, embatendo
Na massa de granito desta terra...
As montanhas _ bem vês _ não têm altura
As maiores são serros noutras partes
Achatam-se alongando-se, alongando-se
Se o arrojo de um píncaro que enteste
Com o menor dos píncaros nos Alpes...
Nas florestas enormes não procures
O cedro colossal ou o carvalho
Ou o plátano altivo que alevanta
Às nuvens uma vida de mil anos,
Não lhe permite o surto, o afago, atroz
Terrível das lianas, das aráceas,
Que os apertam, ... e derrubam
De sorte que as florestas como os rios
Como a montanha, como a terra toda,
São grandes só por um estiramento!... Disse e eu vi pela primeira vez
O clarão ideal de uma ironia
Dando-lhe ao rosto hílar um tom mais sério.
E prosseguiu:
Aqui, o grande é o chato!
Tudo num plano horizontal é enorme
Tudo num plano vertical é mínimo
A pedra, o vegetal, e o... e o homem...
E repentinamente aquele rosto

Onde um ricto sardônico pusera
A lonha ideal desse sarcasmo ríspido
Que é a mágoa triunfante dos eleitos
Pois é a alegria trágica dos fortes,
Aquele rosto desmanchou-se todo
No desmandibulado destempero
De uma risada à-toa.

Mal a ouvi
Prendeu-me o olhar um quadro nunca visto:
Numa clareira, em frente, repontavam
Uns homens singulares... que vestidos!
Nem clâmides, nem togas, nem
Consorciando a candura dos arminhos
Com o varonil das púrpuras brilhantes.
Pretos. De preto todos no afogado
Das vestes ajustadas pelos membros...
Vinham calmos; nem gestos sacudidos
Nem vozes imperiosas... Passos lentos.
[1896 ]

♦♦♦

PÁGINA VAZIA

Quem volta da região assustadora
De onde eu venho, revendo, inda na mente,
Muitas cenas do drama comovente
De guerra despiedada e aterradora.

Certo não pode ter uma sonora
Estrofe ou canto ou ditirambo ardente
Que possa figurar dignamente
Em vosso álbum gentil, minha senhora.

E quando, com fidalga gentileza
Cedestes-me esta página, a nobreza
De nossa alma iludiu-vos, não previstes

Que quem mais tarde, nesta folha lesse
Perguntaria: "Que autor é esse
De uns versos tão mal feitos e tão tristes?"
[1897

♦♦♦



quarta-feira, julho 01, 2009

Entrtenimento levado a sério

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Museu de Quadrinhos - Japão


Depois da França lançar o maior museu de quadrinhos do mundo, é a vez do primeiro-ministro Taro Aso querer superar a Europa e declarar seu país o verdadeiro lugar dos quadrinhos. De acordo com a ABC News, ele quer investir US$ 150 milhões (R$ 290 milhões) em um museu nacional do mangá.


A proposta foi mal recebida no Parlamento japonês, visto que o país atualmente passa por sua pior crise econômica desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Aso rebate que o projeto do museu era da administração anterior, e que apenas quer concretizá-lo de acordo com planos já acertados - embora, claro, esteja com um sorriso de mangá na cara por poder executar o projeto.


O museu cuidaria da restauração e preservação dos primeiros mangás - a indústria moderna de quadrinhos japonesa tem mais de 60 anos -, bem como organizaria exposições. Os mangás atualmente são populares no mundo inteiro e merecem um lugar para preservação, argumentam o primeiro-ministro e seus apoiadores.


O orçamento, porém, ainda não está aprovado e, de acordo com a oposição, merece mais discussões no Parlamento. Se autorizado, superará em mais de dez vezes o valor gasto para montar o Musée de la Bande Dessinée francês, inaugurado mês passado.

Museu de História em Quadrinhos - França

Musée de la Bande Dessinée francês
O mais importante museu de histórias em quadrinhos da Europa, com um acervo de 8 mil desenhos originais, foi inaugurado mês passado, em Angoulême, no sudoeste da França, cidade que se tornou uma referência para os fãs de HQs com a realização de festivais internacionais sobre o tema desde 1974, pela ministra francesa da Cultura, Christine Albanel. Possui uma área total de 5 mil metros quadrados. As obras para a renovação do prédio existente custaram 9,6 milhões de euros.

O museu integra a Cidade Internacional de Histórias em Quadrinhos e da Imagem, criada em 1984. Um outro museu existia nessa área, mas foi fechado em 2000, quando foi decidida a construção do novo espaço no antigo armazém de vinho. No ano passado, o local deixou de ter o estatuto de uma associação privada para se tornar um museu público da França.

O museu retraça a história dos quadrinhos, desde sua criação, no século 19, pelo suíço Rodolphe Töpffer, até os autores contemporâneos. Reúne pranchas de desenhos e edições originais, inúmeros documentos, vídeos e variados objetos que tratam de HQs sob diferentes formas.

Pranchas de desenhos da obra Tintin no Tibete, de 1959, e de outros personagens famosos, como Asterix e Corto Maltese, além de criações mais antigas de autores como Cham e Winsor McCay, são algumas das raridades que podem ser vistas no local. Para garantir a boa conservação das obras, o conjunto de pranchas e desenhos originais serão trocados três vezes por ano, o que permite aos visitantes descobrir uma nova parte do acervo a cada quatro meses.


Visitando o Museu

O percurso da visita se divide em quatro seções. Na primeira delas, sobre a história dos quadrinhos, a partir de 1883, é feito um paralelo entre a tradição franco-belga, de personagens como Tintin, Asterix, Bécassine, Zig e Puce e Corto Maltese, publicadas em revistas semanais e álbuns de capa dura, e os quadrinhos americanos, publicados em tiras de jornais e revistas de pequeno formato, conhecidos como "comic books".

Essa parte histórica da exposição revela ainda como os quadrinhos evoluíram para se tornar obras para adultos entre 1955 e 1980, ao relatarem as mudanças sociais da época, e apresentar também um espaço dedicado aos quadrinhos japoneses, conhecidos como mangá, que totalizam o maior número de títulos e leitores em todo o mundo.
O restante do percurso propõe ainda aos visitantes um ateliê que mostra como as histórias em quadrinhos são criadas, além de uma sala onde estão reunidas 26 pranchas de desenhos consideradas entre as mais importantes do acervo, que serão substituídas regularmente. No final da visita, uma galeria apresenta os autores contemporâneos e obras criadas em escolas de desenho da França e de outros países.

Em cada uma das quatro seções do museu existem salas de leitura, onde uma seleção das revistas e dos álbuns em quadrinhos apresentados pode ser consultada pelo visitante.

O museu dispõe ainda de uma biblioteca, com mais de 115 mil revistas e 43 mil álbuns e livros, e também de uma livraria, com 40 mil títulos. "As histórias em quadrinhos são um estilo criativo que mistura artes gráficas e literárias", afirma Ambroise Lassalle, curador do museu de Angoulême. "Uma arte popular durante muito tempo considerada uma forma de subcultura." "Mas elas também representam um fenômeno cultural complexo, com dimensões econômicas, técnicas e sociológicas que continuaram mudando com as épocas", acrescenta.

terça-feira, junho 30, 2009

Presente de aniversário


"- Bom, eu estava pensando, uma vez que ainda é meu aniversário, que eu gostaria que me beijasse de novo.

- Está gananciosa esta noite.

- Sim, estou... Mas, por favor, não faça nada que não queira – acrescentei, irritada.
Ele riu, depois suspirou.

- Deus me livre de fazer algo que eu não queira – disse ele num tom estranhamente desesperado ao colocar a mão sob meu queixo e puxar meu rosto para o dele.

O beijo começou normal – Edward foi cuidadoso, como sempre, e meu coração começou uma reação exagerada, como sempre. E depois algo pareceu mudar. De repente seus lábios ficaram muito mais urgentes, sua mão livre girava por meu cabelo e segurava meu rosto com firmeza no dele. E, embora minhas mãos também mexessem em seu cabelo, embora eu claramente estivesse começando a atravessar os limites da cautela, desta vez ele não me impediu. Seu corpo era frio no cobertor fino, ma eu me espremi contra ele com ansiedade.
Quando parou, foi repentino; ele me afastou com as mãos firmes e gentis.

Eu desabei no travesseiro, arfando, minha cabeça girava. Algo surgia em minha lembrança, esquivo, nas margens.

- Desculpe – disse Edward, e ele também estava sem fôlego. – Isso não estava nos planos."


Meyer, Stephenie, 1973-
Lua nova / Stephenie Meyer; tradução de Ryta
Vinagre. — Rio de Janeiro: Intrínseca, 2008.

(págs 46;47)

Uma biografia em quadrinhos do cantor Michael Jackson



Será lançada pela editora Bluewater Productions, nos EUA, uma biografia em quadrinhos do cantor Michael Jackson. Será escrita por Wey-Yuih Loh e desenhada por Giovanni Timpano. A edição terá prefácio de Giuseppe Mazzola, amigo de Jackson e membro de seu fã-clube oficial.




O anúncio da HQ, quatro dias após a morte do cantor, alimenta quem enxerga a Bluewater como oportunista editora caça-níqueis. No ano passado, ela lançou uma linha de biografias em quadrinhos de políticos pouco após a editora IDW anunciar HQs biográficas dos então candidatos à presidência Barack Obama e John McCain. Mais recentemente, a Bluewater anunciou uma HQ infantil com Bo Obama, o cachorro oficial da família presidencial norte-americana.





quinta-feira, junho 25, 2009

Michael Jackson

Michael Jackson
(1958 - 2009)

sábado, maio 30, 2009

Walking Around (Neruda)
Acontece que me canso de meus pés e de minhas unhas,
do meu cabelo e até da minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem.

Todavia, seria delicioso
assustar um notário com um lírio cortado
ou matar uma freira com um soco na orelha.
Seria belo
ir pelas ruas com uma faca verde
e aos gritos até morrer de frio.

Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,
com fúria e esquecimento,
passo, atravesso escritórios e lojas ortopédicas,
e pátios onde há roupa pendurada num arame:
cuecas, toalhas e camisas que choram
lentas lágrimas sórdidas.

sábado, março 28, 2009

Autores

"Quando chegaste, os violoncelos
Que andam no ar cantaram hinos.
Estrelaram-se todos os castelos,
E até nas nuvens repicaram sinos.

Foram-se as brancas horas sem rumo.
Tanto sonhadas! Ainda, ainda
Hoje os meus pobres versos perfumo
Com os beijos santos da tua vinda.

Quando te foste, estalaram cordas
Nos violoncelos e nas harpas...
E anjos disseram : – Não mais acordas,
Lírio nascido nas escarpas!

Sinos dobraram no céu e escuto
Dobres eternos na minha ermida.
E os pobres versos ainda hoje enluto
Com os beijos santos da despedida."

ISMÁLIA

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

quarta-feira, março 18, 2009

A Gramática!

"grammatici sermonis Latini custodes sunt, non auctores" (Sêneca)
("Os gramáticos são guardiães da língua, mas não seus autores")
"A gramática, a mesma árida gramática, transforma-se em algo parecido a uma feitiçaria evocatória; as palavras ressuscitam revestidas de carne e osso, o substantivo, em sua majestade substancial, o adjectivo, roupa transparente que o veste e dá cor como um verniz, e o verbo, anjo do movimento que dá impulso á frase." (Baudelaire)

terça-feira, março 17, 2009


Um lindo trabalho. Assim pode ser definido O Alienista (formato 21 x 28 cm, 72 páginas coloridas, R$ 39,90), que chegou às livrarias em 2007 inaugurando a coleção Grandes Clássicos em Graphic Novel, da Agir, tradicional editora do Rio de Janeiro que foi adquirida pela Ediouro em 2002 e estreou - com estilo - no mercado de quadrinhos. A missão de transformar em quadrinhos um dos contos mais famosos de Machado de Assis coube aos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá. E o resultado ficou excelente. "Nossa intenção era preservar ao máximo o texto original, o jeito que Machado de Assis escrevia. Mas, ao mesmo tempo, queríamos que fosse uma história em quadrinhos, não uma história ilustrada", declarou Moon ao Universo HQ. E os gêmeos alcançaram esse objetivo. Procurados pela Agir/Ediouro para inaugurar essa nova linha de quadrinhos, entre algumas opções de escritores, escolheram adaptar algo de Machado de Assis, apesar de, na época, ainda não terem lido O Alienista. Na história, publicada pela primeira vez em 1881, no periódico A Estação e, no ano seguinte, no livro Papéis Avulsos, Machado de Assis usa a loucura como forma de satirizar a sociedade, a política e os valores científicos do fim do século 19. O protagonista é o nobre Simão Bacamarte, o maior médico do Brasil, de Portugal e das Espanhas. Na Vila de Itaguaí, no Rio de Janeiro, Bacamarte se instala para aprofundar seus estudos sobre a mente humana e lá constrói um lugar para abrigar os loucos. O problema começa quando começa a internar pessoas aparentemente sãs. Frente à incredulidade dos moradores, o alienista encontra no barbeiro Porfírio seu principal antagonista.
"Foram quatro meses de trabalho. O primeiro dedicado apenas ao roteiro, definir o que entraria, o que sairia e o que deveria ser transformado na HQ - muita narração virou diálogo, pra dar mais ritmo à história e o Porfírio, por exemplo, ganhou mais força do que tinha no conto original. Depois dessa etapa, passei o restante do tempo só desenhando e colorindo", explica Fábio Moon. Nesta obra especificamente, Gabriel Bá ajudou apenas na adaptação do roteiro (por estar desenhando Casanova para o mercado norte-americano), enquanto o irmão, além de dividir essa mesma função, desenhou e coloriu as páginas. E na arte, em alguns momentos, é fácil notar a influência de Will Eisner no trabalho de Moon. Esta versão em quadrinhos de O Alienista tem tudo para ser adotada por escolas e bibliotecas do Brasil inteiro (algo que, certamente, a Agir/Ediouro tentará), pois mantém grande parte da obra original e, ao mesmo tempo, oferece aos novos leitores um estímulo visual maior, um jeito diferente de encarar os escritos de Machado de Assis."Acho que é uma oportunidade legal para alguns fãs de HQs conhecerem essa obra tão importante; e de leitores de Machado de Assis lerem uma história em quadrinhos", ressalta Moon. Essa tese, aliás, é endossada pelo escritor Flávio Moreira Costa, que assina o prefácio da edição.
Como no conto não há descrição física dos personagens (exceto de D. Evarista, esposa de Simão Bacamarte), Moon os concebeu da forma como os imaginava. Sua Itaguaí também tem um ar bem clássico e tradicionalista, que fica ressaltado nas cores, uma mescla de preto com marrom e amarelo, imitando o sépia. E a Agir/Ediouro dá mostras de acreditar bastante no sucesso dessa coleção. "Foi o meu trabalho de quadrinhos mais bem remunerado. Pela primeira vez, recebi um adiantamento dos royalties de uma obra inédita", contou Moon. Em contato com a editora, o UHQ apurou que outros autores terão obras adaptadas na coleção Grandes Clássicos em Graphic Novel são eles: Euclides da Cunha, Lima Barreto, João do Rio, entre outros.


(GRAPHIC NOVEL - em português, romance gráfico; livro, normalmente contando uma longa história através de arte sequencial (banda desenhada ou quadrinhos), e é frequentemente usada para definir as distinções subjetivas entre um livro e outros tipos de histórias em quadrinhos.O termo é geralmente usado para referir-se ao quadrinho de longa duração, ou seja, é o análogo na arte sequencial a uma prosa ou romance. Pode ser aplicado a trabalhos que foram publicados anteriormente em quadrinhos periódicos, ou a trabalhos produzidos especificamente para publicação em formato livro.)



EM PERFEITO EQUILIBRIO DE MINHAS FACULDADES MENTAIS!


(O Alienista)




"Daí em diante foi uma coleta desenfreada.Um homem não podia dar nascença ou curso à, mais simples mentira do mundo, ainda daquelas que aproveitam ao inventor ou divulgador, que não fosse logo metido na Casa Verde. tudo era loucura. Os cultores de enigmas, os fabricantes de charadas, de anagramas, os maldizentes, os curiosos da vida alheia, os que põem todo o seu cuidado na tafularia, um outro almotacé enfunado, ninguém escapava aos emissários do alienista. Ele respeitava as namoradas e não poupava as namoradeiras, dizendo que as primeiras cediam a um impulso natural e as segundas a um vício. Se um homem era avaro ou pródigo, ia do mesmo modo a Casa verde; daí a alegação de que não havia regra para a completa danidade mental. Alguns cronistas crêem que Simão Bacamarte nem sempre procedia com lisura, e citam um abandono da afirmação (que não sei se pode ser aceita) o fato de ter alcançado da Câmara uma postura autorizando o uso de um anel de prata no dedo polegar da mão esquerda, a toda pessoa que, sem outra prova documental ou tradicional, declarasse ter nas veias duas ou três onças de sangue godo. Dizem esses cronistas que o fim secreto da insinuação à Câmara foi enriquecer um ourives amigo e compadre dele; mas, conquanto seja certo que o ourives viu prosperar o negócio depois da nova ordenação municipal, não o é menos que essa postura deu à Casa Verde uma multidão de inquilinos; pelo que, não se pode definir, sem temeridade, o verdadeiro fim do ilustre médico. Quanto à razão determinava da captura e aposentação na Casa Verde de todos quantos usaram o anel, é um dos pontos mais obscuros da história de Itaguaí a opnião mais verossímel é que eles foram recolhidos por andarem a gesticular, à toa, nas ruas, em casa, na igreja. Ninguém ignora que os doidos gesticulam muito. Em todo caso, é uma simples conjetura; de positivo, nada há."


(O Alienista)

segunda-feira, março 16, 2009

O Comercio - Baudelaire

Charles Pierre Baudelaire (9 de Abril de 1821 - 31 de Agosto de 1867) foi um poeta e teórico da arte francês. É considerado um dos precursores do Simbolismo, embora tenha se relacionado com diversas escolas artísticas. Sua obra teórica também influenciou profundamente as artes plásticas do século XIX.

"O comercio é, por sua essencia, satânico. O comercio é a justa represalia, é o empréstimo com o subentendido: Devol-ve me mais do que eu te dou. O espírito de todo comerciante é inteiramente viciado. O comercio é natural, logo é infame.O menos infame de todos os comerciantes é auqele que diz: "Sejamos virtuosos, para ganhar muito mais dinheiro do que os tolos que são viciosos."Para o comerciante, a própria honestidade é uma especulação de lucro.O comercio é satânico, dado que é uma das formas do egoísmo, e a mais baixa, e a mais vil."
"wer nicht von dreitausend jahren sich weiB
Rechensachaft zu geben Bleib im Dunkeln
unerfahren, Mag von Tag zu Tag leben."
"Quem, de três milênios,
Não é capaz de se dar conta
Vive na ignorância, na sombra,
À mercê dos dias, do tempo."
(Johann Wolfgang von Goethe, poeta alemão)
... sugerir através das palavras sem nomear objetivamente os elementos da realidade;

ênfase no imaginário e na fantasia;
percepção intuitiva da realidade ...


SIMBOLISMO

"Ó flora, ó ninfa das rosas,
Ó frescura dos morangos,
Abre as pupilas radiosas,
Ó flora, ó ninfa das rosas,
Dá-me as estrelas formosas
Do olhar repleto de tangos,
Ó flora, ó ninfa das rosas,
Ó frescura dos morangos."
(Cruz e Souza)
O termo símbolo, com origem no grego σύμβολον (sýmbolon), designa um elemento representativo que está (realidade visível) em lugar de algo (realidade invisível) que tanto pode ser um objecto como um conceito ou idéia, determinada quantidade ou qualidade.
"Deixai que deste álbum na folha delicada
Eu velha difundir meus rudes pensamentos
Deixai que as pobres rimas, uns nadas poerentos
eu possa transudar da mente entrenublada!...
.
Deixai que de minh'alma na fibra espedaçada
Eu busque inda vibrar uns cantos tardos, lentos!...
Bem cedo os vendavais, aspérrimos, cruentos
Ai! Tudo arrojarão á campa amargurada!
.
Porem qu'importa isso! dos mares desta vida
Nos pávidos, estranhos, enormes escarcéus
Se alguma coisa val, és tu, ó luz querida!...
.
Raguemos do porvir os áditos, os véus!...
Riamos sem cessar, embora em dor sentida!...
Também as nuvens negras congloban-se nos céus!..."
(5 dez 1882) (Cruz e Souza)

Quem sou eu

Minha foto
Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? Blá... Blá... Blá...